14 de outubro de 2022
Biomedicina fomenta produção científica na saúde pública
Em apenas 48 horas após a confirmação do primeiro caso de Covid-19 no Brasil, pesquisadores do Instituto de Medicina Tropical da Universidade de São Paulo (USP) realizaram o sequenciamento genético do Sars-CoV-2. Um tempo recorde que atraiu holofotes para a biomédica Jaqueline Goes de Jesus, uma das integrantes da equipe, e para a importância de investir em pesquisas científicas e saúde pública.
Em 2020, um vírus batizado de Khosta-2 foi encontrado em morcegos por cientistas na Rússia. Assim como o Sars-CoV-2, o vírus pertence ao sarbecovírus, uma subcategoria de coronavírus. Mais recentemente, pesquisadores da Universidade Estadual de Washington State (WSU), nos Estados Unidos, alertaram para o fato de que o Khosta-2 possui proteínas capazes de infectar humanos e é resistente às vacinas disponíveis. A descoberta aponta também neste caso a relevância das pesquisas contínuas na área da saúde.
Neste contexto, um levantamento da OMS (Organização Mundial da Saúde) indica que investir um dólar por pessoa na prevenção e tratamento de doenças não transmissíveis pode salvar sete milhões de vidas até 2030. O órgão salienta que é preciso investir em ações de saúde pública baseadas em evidências. Neste sentido, a biomedicina é uma grande aliada. Os profissionais que atuam na área desempenham papel relevante na elaboração de pesquisas científicas.
“A enfermagem em trabalho conjunto com a biomedicina pode desenvolver ciência de várias formas e contribuir para o avanço da saúde pública no país”, afirma Thayanne Pastro Loth, docente, mestre e especialista em saúde pública. Ela exemplifica que a atuação pode ocorrer em pesquisas sobre a ação de medicamentos preexistentes ou até mesmo na criação de novas vacinas. Um estudo sobre fármacos pode visar “baratear os custos e garantir eficácia bem como melhorar a via de administração de medicação de alguns tratamentos”, diz Loth.
Exemplo recente de contribuição científica foi a descoberta da biomédica Lívia Fratini Dutra, doutoranda do Programa de Pós-graduação em Biologia Celular e Molecular da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), de um gene presente em casos graves de meduloblastoma, tumor no cérebro comum em crianças. Chamado ZEB1, o gene foi associado a uma pior expectativa de vida em pacientes que se enquadram nas classificações 3 e 4 do meduloblastoma – os mais agressivos.
De acordo com um artigo acadêmico, produzido na UFSM (Universidade Federal de Santa Maria), o caráter multidisciplinar da biomedicina oferece uma visão ampla da saúde, o que permite que o profissional da área seja também capaz de desenvolver e implantar políticas de saúde, projetos governamentais, avaliar planos e programas na atenção à saúde e colaborar nas políticas públicas de saúde.
A profissão de biomédico, regulamentada em 1979, possui vasta área de atividades, sendo mais de 30 habilitações regulamentadas pelo Conselho Federal de Biomedicina. O profissional que atua na saúde pública é um dos agentes de destaque pela possibilidade de realizar estudos específicos.
“Pesquisas científicas na área contribuem para o avanço do manejo das doenças, seja no diagnóstico, tratamento ou prevenção”, pontua a especialista em saúde pública.
Segundo a docente, ao se debruçar em dados estatísticos e indicadores de saúde, tais pesquisas geram a “reflexão sobre os problemas reais acerca [de uma determinada] doença e da população acometida, possibilitando intervenções de saúde mais pontuais e efetivas”. Ou seja, é um trabalho que reflete também nas autoridades sanitárias que, com base em evidências científicas, podem atuar de forma coordenada e estratégica.