02 de setembro de 2022
Healthtechs chegam para mudar a forma de cuidados com a saúde física
As facilidades oferecidas pela telemedicina, aliadas ao surgimento de centenas de healthtechs, como são chamadas as startups voltadas para soluções no setor da saúde, têm gerado uma nova tendência em fisioterapia e na manutenção da saúde física. No novo normal pós-pandêmico, tal cuidado não se limita mais à marcação de consultas apenas quando se tem uma dor ou fratura. Os especialistas em reabilitação musculoesquelética revelam que a prevenção e a gestão de cuidado passaram a ser palavras de ordem num mundo em que a dor lombar lidera o ranking de doenças, além de ser a mais incapacitante e onerosa, segundo o Burden of Diseases.
Um termômetro dessas mudanças é o crescente aumento de startups na área da saúde, como sugere recente pesquisa da Liga Ventures e PwC. Mesmo em um cenário de pandemia, o número de healthtechs ativas cresceu 13,7%, em média, entre 2019 e 2021. Atualmente, são contabilizadas 542 empresas, número divulgado na terceira edição do Distrito Healthtech Report, publicada pela hub de inovação Distrito.
Fisioterapia inteligente
“Para o paciente, a comodidade do teleatendimento, a possibilidade de ter um especialista disponível na tela do computador ou celular sem deslocamentos, de provisório que era no período do isolamento, virou realidade tanto nos planos de saúde como em clínicas privadas”, explica Rafael Alaiti, especialista em Fisioterapia Musculoesquelética, Mestre e Doutor em Neurociência da Dor e MBA em Healthtech e CEO da Tato Fisioterapia Inteligente, healthtech pioneira em gestão de cuidado e tratamento de saúde musculoesquelética no Brasil.
O segredo está na continuidade
A experiência da motorista Elisabete Rubia de Sá, de 68 anos, ilustra como as novas soluções propostas pelas healthtechs podem ser alternativas não somente em tempo de confinamento. Movida por crise de dores nos ombros e braços durante a pandemia, Elisabete recorreu ao tratamento à distância e acabou aderindo. Além da facilidade de fazer as sessões na sua sala de estar, os gestores de saúde prescrevem exercícios utilizando aplicativos, acompanham a evolução do paciente por telemonitoramento e vão adequando o plano de movimentos terapêuticos para que a pessoa dê continuidade ao tratamento e às mudanças de hábitos relacionados à atividade física após a alta. “Diferente do que acontece na fisioterapia tradicional em que, após 10 ou mais sessões, você para tudo e, geralmente, a dor volta”, conclui a motorista que, motivada por esses gestores de cuidado, Elisabete passou a praticar hidroginástica, musculação, natação, e, quando está na praia, a paulista percorre 12 quilômetros de bicicleta ou joga frescobol com os amigos.
Não adianta fazer algumas sessões e depois parar tudo
O depoimento de Elisabete confirma o que uma das maiores healthtechs dos Estados Unidos, também dedicada à saúde musculoesquelética, a Hinge Health, divulgou há poucos meses: 7 em cada 10 pacientes não conseguem aderir às terapias de reabilitação musculoesqueléticas convencionais.
Adesão que, por sinal, tem sido estudada há décadas. Os pesquisadores Claydon & Efron, em 1994, já demonstravam que a média de pessoas que desistiam de seus tratamentos variava de 30% a 60%. Hoje, há diversos fatores a serem levados em conta como tipo de tratamento, técnica empregada, se dizem respeito à prevenção ou não, enfim, os estudos são distintos e apontam taxas variando em torno de 30% a 80%.
Doenças e dores musculoesqueléticas são responsáveis por 20% de toda a incapacidade global, conforme revela estudo do Global Burden of Deseases. “Muito disso se dá pela prescrição de tratamentos ineficazes e pelo fato dos pacientes não conseguirem dar continuidade ao que foi trabalhado durante o processo de reabilitação”, afirma Hélio Nichioka, fisioterapeuta especialista em dor pelo Hospital Israelita Albert Einstein, com mais de 20 anos de experiência clínica, proprietário do Instituto Nichioka, em SP, e COO da Tato.
Para mudar esse cenário, Hélio acredita que a solução esteja na gestão de cuidado. Por isso, os fisioterapeutas da startup mapeiam a saúde musculoesquelética dos colaboradores de empresas parceiras, fazem a triagem de casos elegíveis à fisioterapia online, ações in loco e o tratamento em si, educação e monitoramento dos pacientes, inclusive após a alta, ou seja, toda a gestão de cuidado para manter a coluna e demais partes do corpo funcionando bem. “Assim, reduzimos faltas ao trabalho, gastos de empresas com convênios, e incentivamos a mudança de comportamento para que as pessoas tenham qualidade de vida e autonomia. Já para operadoras de saúde e autogestoras, conseguimos definir a melhor trajetória de cuidado individual, com o objetivo de dar acesso a uma reabilitação de qualidade em qualquer lugar do país e evitar exames e cirurgias desnecessárias“, esclarece Hélio.
Coaching em fisioterapia
Com essa espécie de coaching através de material educativo, vídeos de exercícios para evitar dores, o atendimento digital tem conseguido maior adesão, melhores resultados em menor tempo, fora a redução de cirurgias e a realização de exames caros de imagem, etc., como revela o estudo da Hinge Health sobre a eficiência do teleatendimento em tratamento musculoesquelético, realizado por pesquisadores das Universidades de Stanford, Califórnia e Vanderbilt, nos Estados Unidos, com participação de mais de 10 mil pessoas.
Empresas que estão começando a aderir à terceirização da gestão de saúde da sua equipe no país também têm se surpreendido com a novidade, como confidencia a diretora de recursos humanos da Allianz, Lucila Gori, de 48 anos. “A experiência com a fisioterapia online e os gestores de cuidado tem superado as expectativas desde a pandemia, quando tivemos o suporte personalizado com fisioterapeutas empáticos, bem preparados e comprometidos com cada pessoa em tratamento, o que não encontramos no sistema público ou em terapias de apoio em planos de saúde”, avalia a psicóloga, acrescentando que tudo isso, a um valor mais acessível do que o de convênios, se tornou um diferencial para efetivação dessa parceria “que tem dado excelentes resultados”, segundo Lucila.
Como disse a motorista Elisabete, a fisioterapia online “só não substitui a massagem, mas até o efeito da massagem é possível sentir à distância!”, referindo-se ao alívio e melhora da dor.