16 de dezembro de 2024
Uma Vida Entre Ondas e Memórias
Receber o convite para assinar uma coluna no Jornal Acontece foi inesperado e cheio de emoção. É um privilégio compartilhar aqui minha paixão de uma vida inteira pelo surf, um esporte que é muito mais do que isso – é um estilo de vida que sigo há mais de 40 anos.
Meu nome é Marcelo, sou surfista e empresário. Tenho a Fundo de Areia, uma surf shop que está há 19 anos atendendo a comunidade da Vila Natal, em Cubatão. Mas minha relação com o mar começou bem antes disso, lá em 1984, quando minha família se mudou para Praia Grande.
Eu tinha 13 anos e nunca tinha visto um surfista. Era um dia qualquer de verão quando fui à praia pela primeira vez, sem pretensões. Foi próximo ao Canto do Forte, e aquela galera me chamou atenção de cara: cabelos compridos, desenhos na pele, uma linguagem que parecia um código próprio. “Desbaratina”, “tô numa nice”, “maneiro”… tudo isso parecia pertencer a outro universo. E naquele momento, decidi que queria fazer parte dele.
Na semana seguinte, conheci meu primeiro “irmão de surf”, David. Ele me deu minha primeira prancha, uma Samoa vermelha. Cuidava dela como se fosse parte de mim. Aprender a surfar foi um desafio enorme, mas eu mergulhei de cabeça. Dedicação e tempo eram coisas que eu tinha de sobra, e em menos de uma semana consegui ficar em pé pela primeira vez. Esse momento é inesquecível – o tipo de memória que todo surfista carrega como um troféu pessoal.
A partir daí, os desafios foram aumentando: sair do inside para o outside, encarar as ondas maiores, conquistar o respeito dos surfistas mais experientes. Surfar exige coragem, resiliência e uma conexão profunda com o mar. É mais do que um esporte, é uma lição de vida diária.
Ao longo da década de 80, o Brasil passava por grandes transformações culturais e políticas. E eu vivia meu próprio turbilhão, indo de Cubatão para Vila Velha, no Espírito Santo, onde morei por três anos. Lá conheci lugares incríveis como Regência e a Barra do Jucu. Mas como todo surfista, a alma nômade sempre fala mais alto, e em 1993 voltei para Cubatão.
Sem praia por perto, a solução era madrugar e encarar a estrada até São Vicente ou Guarujá para pegar onda. Na época, trabalhava na Cosipa durante a semana e surfava no fim de semana.
Em 1997, minha vida ganhou novos significados. Casei com Cynthia, minha parceira de vida, e nasceu nosso filho Peterson, batizado em homenagem a um surfista que admiro. A responsabilidade cresceu, e o surf precisou dividir espaço com novos desafios. Mesmo assim, nunca deixei de buscar no mar a inspiração para seguir em frente.
Fiz curso técnico, trabalhei na área, mas sentia que faltava algo. Então, em um momento decisivo, decidi largar tudo e seguir meu coração: abri a Fundo de Areia.
A loja é mais do que um negócio. É um ponto de encontro para outros apaixonados pelo surf, um espaço onde histórias se cruzam e amizades se formam.
O surf me ensinou muito. Ele me mostrou que a vida é como o mar: imprevisível, desafiadora, mas cheia de possibilidades. Aprendi que a queda faz parte do processo e que sempre vale a pena tentar de novo.
Começar foi difícil, mas a certeza de que eu estava no caminho certo me fez persistir. Hoje, 19 anos depois, vejo como o surf não só moldou minha trajetória, mas também me levou a lugares e experiências que o garoto de 13 anos jamais imaginaria.
Aqui nesta coluna, vou trazer histórias, curiosidades, reflexões e dicas do universo do surf e do lifestyle que ele representa. O surf é muito mais que um esporte, é uma filosofia de vida.
Como dizia minha mãe, sempre que alguém questionava meu amor pelo mar: “O surf é maior legal.”
Aloha e boas ondas!