03 de maio de 2021
Câncer se agrava e Bruno Covas vai para UTI
O prefeito licenciado de São Paulo Bruno Covas (PSDB) foi para a Unidade de Terapia Intensiva – UTI na manhã desta segunda-feira, no Hospital Sírio Libanês, em São Paulo. O quadro do prefeito se agravou e ele, agora, apresenta sangramento no estômago.
Afastado
Covas se licenciou do cargo neste domingo, por 30 dias, para intensificar o tratamento contra o câncer no sistema digestivo com metástase óssea. A situação é delicada e ele recebe alimentação venosa. Apesar do tratamento com quimioterapia e imunoterapia, a doença avançou no começo deste ano.
Interino
O vice-prefeito, Ricardo Nunes (MDB) assume a Prefeitura, interinamente.
Reeleito no segundo turno em novembro passado, o tucano vinha despachando do hospital e de casa, mas agora seu estado inspira mais cuidados. Nunes, que era vereador, é ligado ao grupo do presidente da Câmara, Milton Leite (DEM). Entre tucanos, sua ascensão é vista com reservas, em especial da hipótese de o afastamento de Covas se estender.
O câncer do prefeito originou-se na cárdia, uma válvula no trato digestivo, e depois afetou também o fígado. Ele iniciou tratamento ainda em 2019 e evitava, desde então, afastar-se de suas funções na prefeitura, limitando suas licenças médicas
No último dia 16, os médicos anunciaram que exames detectaram o surgimento de novos focos de câncer no fígado e ossos do prefeito.
Um dos pontos que faz-se necessário esclarecer é que os tumores agora detectados não significam que o prefeito tenha desenvolvido outros tipos de câncer, pelo contrário: eles têm relação direta com o diagnóstico feito há cerca de 18 meses. “Em muitos casos de pacientes com tumores malignos, mesmo com o tratamento, é possível que células cancerígenas se soltem do órgão original onde a doença está localizada e tentem ‘viajar’ para outra parte do corpo. Em geral, esse trajeto não dá certo e essas células são eliminadas pelo organismo, mas quando elas conseguem alcançar uma nova área e se estabilizar, acabam gerando uma multiplicação da doença e o aparecimento do câncer em outra parte do corpo. É o que denominamos metástase”, diz Renata D’Alpino é oncologista e coordenadora do grupo de tumores gastrointestinais e neuroendócrinos da Oncoclínicas.
As metástases indicam a necessidade de ajustes nas condutas terapêuticas adotadas, de acordo com as etapas evolutivas da linha de cuidado oncológica. Essas mudanças são necessárias para que o tratamento possa surtir o efeito desejado e frear o avanço do câncer. Vale, contudo, lembrar que , embora afete outros órgãos, em casos como o de Bruno Covas, os novos tumores malignos têm as mesmas características da doença inicial e, por isso, não podem ser classificados ou tratados como sendo um câncer diferente.
“De forma simplificada, quando o câncer de localizado em uma parte do corpo causa metástases em outro órgão, as células que formam o novo tumor mantêm as suas características de origem, como se fossem uma espécie de clones. Por isso, o recomendável é seguir o protocolo de tratamento convencional indicado para o tipo de tumor primário, podendo nesta situação ser recomendada quimioterapia, radioterapia ou imunoterapia”, destaca a médica.
A metástase geralmente é diagnosticada por meio dos exames contínuos de acompanhamento do paciente, essenciais para que sejam tomadas medidas rápidas para dar sequência ao controle da doença. Esses testes também ajudam na escolha das abordagens a serem adotadas, que levam em conta a origem da doença, o tamanho e a extensão do tumor. “Vale sempre lembrar que o Câncer, mesmo quando tendo avançado para outras partes do corpo, pode apresentar boas respostas às terapias empregadas, assegurando qualidade de vida ao paciente mesmo quando a cura não seja possível – ainda que momentaneamente, já que ciência e a medicina evoluem a passos largos para a geração de tratamentos cada vez mais avançados visando transformar o câncer futuramente em uma doença crônica, que com os cuidados certos pode ser totalmente controlado”, explica Renata D’Alpino.
Até que esse momento tão desejado seja alcançado, todavia, sempre é preciso reforçar que as palavras-chave quando o assunto são as neoplasias malignas são prevenção e detecção precoce. Neste sentido, é possível reduzir os riscos de surgimento de inúmeros tipos de tumores a partir de hábitos alimentares saudáveis, prática de atividades físicas regulares e controle do peso. No caso dos tumores gastrointestinais, a obesidade, somada à ingestão em excesso de alimentos ultraprocessados – como salgadinhos, biscoitos, enlatados, pratos congelados, macarrão instantâneo, achocolatados, refrigerantes e bebidas com sabor artificial de frutas -, figuram entre os principais fatores que podem desencadear a doença.
Além disso, nestes quase 12 meses de pandemia no Brasil vimos despencar os números de exames de rastreio periódicos e idas para consultas de rotina para controle da saúde em geral. “O diagnóstico do câncer em estágio inicial permite possibilidades de cura em mais de 95% dos casos, percentual que cai vertiginosamente quando a descoberta acontece já em fases mais avançadas, ficando em 25%”, alerta Renata D’Alpino.