15 de agosto de 2025
“Casa dos Esquecidos”: Polícia Civil fecha abrigo clandestino e resgata idosos em condições desumanas

O que parecia ser apenas mais uma denúncia anônima transformou-se em uma das mais impactantes ações de proteção à dignidade humana na Baixada Santista. Na manhã desta quarta-feira (14), a Polícia Civil deflagrou uma operação que revelou o lado mais cruel da negligência institucional: um abrigo clandestino de idosos que funcionava sem qualquer autorização legal e escondia uma rotina de sofrimento silencioso.
O imóvel, localizado na Rua Rio Grande do Sul, não possuía alvará, registro no Conselho Municipal do Idoso ou qualquer documentação exigida pela legislação vigente. O local foi interditado imediatamente. O cenário encontrado pelos agentes e profissionais da saúde era estarrecedor: oito idosos, alguns acamados, outros com deficiências físicas e cognitivas, estavam distribuídos em dois quartos e uma sala, em meio à urina, fezes ressecadas, fraldas sujas e ausência total de cuidados médicos.
Um dos idosos, portador de HIV, usava uma sonda mal fixada com esparadrapo; outro, com Alzheimer, não recebia medicação específica. Uma idosa, vítima de AVC, estava urinada na cama, sem fisioterapia ou controle de sinais vitais. Os medicamentos eram administrados sem critério, sem prontuários e sem acompanhamento profissional. Não havia médico, nutricionista, fisioterapeuta ou sequer descarte adequado de materiais.
A denúncia, feita pelo Disque 100, foi confirmada pela Comissão de Fiscalização de Longa Permanência de Idosos (CONFILPI), que acionou a força policial. A operação contou com apoio da Delegacia de Defesa da Mulher, Guarda Civil Municipal, Vigilância Sanitária, Secretaria de Infraestrutura e profissionais da UBS Vila Alice, que prestaram os primeiros atendimentos.
Três mulheres, com idades entre 37 e 56 anos, foram presas em flagrante e responderão por maus-tratos a idosos, conforme o artigo 99 do Estatuto do Idoso. A pena pode chegar a sete anos, dependendo da gravidade das lesões. As investigações apontaram que duas das suspeitas já haviam sido interditadas anteriormente por manter outra ILPI clandestina, transferindo os idosos para o novo endereço na tentativa de driblar a fiscalização.
A operação reforça o compromisso das autoridades em proteger os direitos e a dignidade da pessoa idosa, garantindo que vivam com respeito e condições adequadas. As investigações continuam para apurar todas as responsabilidades.