Durante 100 anos ele circulou regularmente pela Cidade. Parou definitivamente há mais de meio século, mas permaneceu vivo na memória de muitos santistas e moradores da região e cultuado também por inúmeros admiradores. Até que, no ano 2000, voltou para resgatar doces lembranças, conquistar novos fãs e se tornar novamente em uma grande atração e mais um cartão-postal santista. Ele é o bonde que, na Cidade, tem até um dia para chamar de seu, o 23 de setembro.
A comemoração será em grande estilo e estará integrada à programação da 2ª Primavera Criativa, que acontece até domingo (25), com eventos de música, cultura, esporte e várias outras atividades. Tudo para festejar a chegada da estação das flores.
E o Bonde prefixo 32 (aberto), que inaugurou os passeios na Linha Turística do Centro Histórico há 22 anos e é o exemplar mais antigo do País em atividade, estará ornado a caráter para a festa: enfeitado com muitas flores de várias espécies e cores.
Nesta sexta-feira (23), as viagens no bonde terão 50% de desconto para todos os passageiros. Também haverá a confecção em tempo real de painel instagramável com o tema bonde primavera pelo artista Prëo, que em seguida participará de passeios para falar sobre arte urbana, com paradas em pontos com essa forma de manifestação artística. As saídas serão às 16h30, 17h10, 17h50 e 18h30.
Ainda neste dia, na primeira viagem do elétrico do Bonde Café, às 12h30, haverá o lançamento do audioguia trilíngue (português, inglês e espanhol). Dispositivo pelo qual o passageiro terá informações sonoras sobre os pontos que são referência no percurso da linha. O sistema foi desenvolvido pela Secretaria de Empreendedorismo, Economia Criativa e Turismo (Seectur), com apoio da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET-Santos).
PASSADO RESGATADO
A Linha Turística do Bonde está próxima de atingir a marca de 2 milhões de passageiros transportados em uma viagem pelo Centro, que remete à história de Santos e seus ilustres personagens. Até o último dia 17, foram exatos 1.949.097 viajantes, público composto por pessoas de todas as idades, entre santistas, moradores da Baixada, de várias partes do País e do exterior.
“Cada viagem é uma alegria. As pessoas se divertem, fazem muitas fotos dos lugares e até mesmo com a gente. Os mais velhos relembram o passado”, revela Carlos José Andrade Dias, um dos seis motorneiros que se revezam na tarefa de conduzir os bondes que circulam na linha turística.
Ele próprio tem uma bela história para contar: “Trabalho na CET há 24 anos e como motorneiro há 17. Quando inaugurou a linha, quis vir trabalhar nela. Gostava e sempre quis dirigir o bonde. O que me deixa feliz é fazer isso todos os dias. Poder passear e carregar os turistas. E eles gostam muito”, diz.
“Uma vez uma senhora estava no bonde e vi que chorava. Quando acabou o passeio, fui perguntar por que estava chorando e ela falou que estava relembrando do marido, que era motorneiro. Conheceu andando de bonde, quando era mocinha e se casou com ele. Hoje em dia ela é até minha amiga”, conta.
HISTÓRIA
Os registros dos historiadores contam que no dia 8 ou 9 de outubro de 1871 começou em Santos o serviço de bondes de cargas, à época puxados por burros. Era a primeira linha do País e ligava a Vila Mathias à barra do Boqueirão.
O transporte de passageiros iniciou quatro anos mais tarde (1875), com a linha entre Santos a São Vicente, passando pelo matadouro, hoje Avenida Nossa Senhora de Fátima. Surgiria ainda outra linha entre as duas cidades, com itinerário pela orla.
O sistema teve seu período áureo no final da década de 1930, quando foi considerado o melhor modelo público de transporte da América Latina. Com o progresso, foi perdendo espaço para sistemas mais modernos como o rodoviário, até ser definitivamente extinto em fevereiro de 1971.
Na linha turística operam cinco carros, que voltaram a funcionar após minuciosa restauração feita por equipe de profissionais da própria CET, também responsável pela manutenção regular dos elétricos. Todos fazem parte do Museu Vivo dos Bondes de Santos, cujo acervo total é de 13 veículos. São exemplares de cinco nacionalidades (Brasil, Itália, Japão e Portugal e EUA), fabricados entre as décadas de 1920 e 1950.
SERVIÇO
O ingresso para o passeio de bonde custa R$7; maiores de 60 anos, professores e estudantes pagam meia; crianças de até 5 anos e guias de turismo em monitoria de grupo não pagam.
Foto:PMS