07 de julho de 2025
Meta na mira por omissão em golpes com falsos investimentos

O Brasil vive uma explosão de fraudes financeiras digitais, com golpes cada vez mais sofisticados que afetam milhares de pessoas em busca de renda extra. Falsas corretoras de investimentos, com promessas de lucros altos e rápidos, usam ferramentas modernas para enganar usuários, e um fator chama atenção: o uso recorrente das plataformas da Meta — controladora de Facebook, Instagram e WhatsApp — como principal meio de disseminação desses crimes.
Segundo o advogado Jorge Calazans, especialista na defesa de investidores vítimas de fraudes, o que se vê no país não são ações isoladas, mas um modelo industrial de crime organizado digital. Grupos criminosos transnacionais operam com o uso de inteligência artificial, deepfakes de personalidades públicas e anúncios hipersegmentados, que miram especialmente os mais vulneráveis: aposentados, trabalhadores endividados e pequenos investidores.
Esses grupos funcionam como verdadeiras instituições financeiras clandestinas, captando recursos ilegalmente, sem autorização de órgãos reguladores. E, de acordo com Calazans, essa estrutura criminosa não seria viável sem a omissão das plataformas da Meta, que permitem — e lucram com — a veiculação de anúncios fraudulentos.
“Mesmo após sucessivas denúncias, reportagens investigativas e alertas técnicos, os conteúdos continuam sendo publicados e impulsionados. Isso caracteriza o que chamamos de cegueira deliberada — quando uma empresa escolhe conscientemente não agir, mesmo tendo meios para impedir a prática criminosa”, afirma o advogado.
Calazans aponta que a Meta dispõe de ferramentas avançadas de moderação automatizada e inteligência artificial, capazes de identificar e remover esse tipo de conteúdo, mas opta por priorizar o lucro com a venda de publicidade, muitas vezes paga com o próprio dinheiro das vítimas.
Essa conduta, segundo ele, pode configurar cumplicidade criminal. “Ao permitir a prática, lucrar com ela e ignorar os riscos, a empresa incorre em dolo eventual, pois assume conscientemente o risco de facilitar fraudes”, explica.
Para o advogado, a discussão não se trata de limitar a liberdade de expressão, mas de responsabilizar empresas que, com seu alcance e tecnologia, acabam alimentando esquemas criminosos. Ele reforça que, ao atuar no Brasil, a Meta deve cumprir a legislação nacional, incluindo as normas penais.
“O combate às fraudes digitais exige mais do que novas regras. Exige coragem para enfrentar não apenas os golpistas, mas também os gigantes da tecnologia, que fornecem palco, plateia e bilheteria para que esses crimes prosperem”, conclui.