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Jornal Acontece

19 de setembro de 2022

Pesquisa aponta riscos do uso indiscriminado da pílula anticoncepcional

 | Jornal Acontece

Estudantes do CEUB entrevistaram mulheres do DF na faixa de 18 a 40 anos que revelaram fazer uso da pílula sem prescrição médica

 

A pílula anticoncepcional é um dos métodos mais utilizados no mundo para a prevenção da gravidez indesejada e para o tratamento de problemas hormonais da mulher. Marco da autonomia reprodutiva feminina, o medicamento possui uma série de efeitos colaterais leves e graves. Visando mostrar os danos causados no organismo de mulheres em idade reprodutiva, as egressas de Enfermagem do Centro Universitário de Brasília (CEUB) Ana Beatriz Souza e Maynara Silva desenvolveram uma pesquisa científica para apontar os fatores que podem desencadear a trombose, condição que pode ser fatal.

 

O anticoncepcional oral apresenta uma alta carga hormonal em sua composição farmacológica, o que pode levar à ocorrência de diversos efeitos adversos, tais como: dores de cabeça, aumento do fluxo menstrual, diminuição da libido, podendo inclusive acarretar riscos, devido ao uso prolongado, tais como a trombose venosa e o acidente vascular cerebral. A trombose é um efeito adverso muito presente em pacientes que utilizam a pílula, devido às alterações na cascata de coagulação, que intensificam o risco de promover a formação de um trombo.

 

De acordo com pesquisa realizada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), mulheres que usam pílulas anticoncepcionais têm risco de quatro a seis vezes maior de desenvolver tromboembolismo venoso do que mulheres que não usam contraceptivos orais. Nesse sentido, o que poucas mulheres sabem é que o uso indiscriminado de anticoncepcional traz riscos graves, que podem até levar a óbito. A maioria compra diretamente as pílulas sem conhecer outros métodos contraceptivos.

 

Para a egressa do curso de Enfermagem do CEUB Maynara Silva, muitas mulheres acabam aderindo à pílula mesmo com os riscos, por falta de orientação necessária: “Muitas dessas mulheres não recebem as orientações corretas sobre o uso do fármaco e começam a tomar por conta própria, sem prescrição médica, fazendo o uso do anticoncepcional de forma inadequada e por tempo prolongado”.

 

Ao desenvolver o estudo, as pesquisadoras entrevistaram, por meio de questionário eletrônico, mulheres de 18 e 40 anos, matriculadas em universidades do Distrito Federal. Ao todo, 189 entrevistas foram realizadas, sendo que, destas, 99 fazem uso de algum método contraceptivo há mais de seis meses. De acordo com a apuração, 88,9% desse grupo de entrevistadas optaram pelo uso da pílula, alegando fácil acesso. Já 4,4% das mulheres relatam que o método escolhido foi o intramuscular, 2,2% escolheram o DIU e 3,3% responderam utilizar outros métodos contraceptivos.

 

Orientador do projeto científico, o especialista em Farmacologia do CEUB Danilo Avelar alerta que para além dos efeitos colaterais que podem levar à trombose, a falta de informação e da prescrição médica pode ser uma agravante. “O estudo confirmou ainda que grande parte das mulheres têm conhecimento que os anticoncepcionais orais podem apresentar risco à saúde da mulher. Isso ocorre devido à ingestão de hormônios sintéticos, que podem alterar a ação fisiológica de várias substâncias e vias metabólicas do organismo”, complementa.

 

Para uma das autoras do artigo acadêmico, Ana Beatriz Souza, é essencial que a mulher, junto com o ginecologista, faça uma escolha consciente e adequada às suas condições. A pesquisa nos levou a reforçar a necessidade de avaliação do uso dos anticoncepcionais pela população feminina e correlacionar com o risco de trombose, uma vez que a doença é um risco eminente na população feminina”.

 

Danilo Avelar destaca ainda a importância de incentivar o ensino e palestras educativas a respeito dos diversos meios contraceptivos, proporcionando, assim, a escolha do método junto ao profissional de saúde devidamente capacitado (médico, enfermeiro e farmacêutico) para que melhor se adeque à realidade e ao organismo das mulheres. “Por meio de campanhas, exames e acesso à saúde e informação, as mulheres devem optar pelo uso adequado do fármaco, garantindo, assim, o preceito constitucional da dignidade da pessoa humana e da liberdade de escolha individual”, completa o especialista.

 

Trombose e outros fatores

 

De acordo com pesquisa realizada pela Organizações das Nações Unidas (ONU) intitulada “Tendências do Uso de Métodos Anticoncepcionais no Mundo”, 64% das mulheres utilizam algum tipo de proteção para não engravidar. No Brasil esse número sobe para 79%, segundo o documento. O estudo aponta que para cada 100.000 mulheres, pelo menos cinco casos de trombose estão relacionados ao uso de anticoncepcionais orais. Tabagismo, diabetes, obesidade e hipertensão arterial também podem potencializar riscos à saúde da mulher se associados ao uso de anticoncepcionais, sobretudo na faixa etária a partir dos 35 anos.

 

 

 

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